Eduardo Nery

PT

Eduardo Nery (1938-2013), nasceu na Figueira da Foz. Diplomado em Pintura pela ESBAL. Pintor abstratizante, de feição geométrica, foi influenciado pelo construtivismo, cubismo e dadaísmo. Aprendeu tapeçaria em França com o pintor Jean Lurçat (Saint-Céré, 1960-1961). Foi Lurçat quem incentivou a entrada de Portugal na primeira Bienal Internacional de Lausanne. Eduardo Nery representou o país nesta Bienal em 1965. Trabalhou nos campos da pintura, desenho, gravura, colagem, tapeçaria, azulejaria, vitral, design, fotografia, ilustrações e capas de livros, explorando e estudando no seu trabalho de forma aprofundada as qualidades da geometria e da cor.

Nesta obra, “Estrutura Ambígua” de 2002, o trabalho sobre a cor explora as possibilidades que a técnica utilizada permite, ao trabalhar com uma trama com múltiplos fios, onde, para além da variação na escolha do catálogo de cores, se conseguem tons intermédios pela diferente combinação de fios na mesma passagem de trama. O trabalho sobre a cor permite que a peça tenha uma dupla tridimensionalidade, a da configuração da geometria base, que num dispositivo de ilusão óptica próprio da “op art” pode ser lida de diversas formas em termos de orientação espacial, mas também a leitura de agrupamentos de elementos dessa estrutura base que atravessam a tapeçaria com a ilusão que se destacam tridimensionalmente de uma base com menor profundidade.

Por outro lado, o rigor geométrico que as estruturas diagonais da obra apresentam é também uma característica própria da técnica da Manufactura de Portalegre, nomeadamente a teia de fios duplos, que permite que seja envolvida pelas passagens de trama a abranger o fio duplo (ponto) ou apenas um dos fios da teia (meio ponto), um elemento distintivo desta Manufatura em relação a outras técnicas de tapeçaria. Esse rigor é também permitido por uma interpretação detalhada do cartão, no caso de Eduardo Nery sempre com o envolvimento directo do artista, e da sua passagem pelo gabinete técnico da Manufactura para uma quadrícula, que por sua vez é rigorosamente transposta pelas artesãs para a tapeçaria durante o processo de execução da mesma.

ENG

Eduardo Nery (1938-2013), was born in Figueira da Foz. He graduated in Painting from ESBAL. A geometric abstract painter, he was influenced by constructivism, cubism and Dadaism. He learnt tapestry in France with the painter Jean Lurçat (Saint-Céré, 1960-1961). It was Lurçat who encouraged Portugal’s entry into the first International Biennale of Lausanne. Eduardo Nery represented his country at this Biennale in 1965. He worked in the fields of painting, drawing, engraving, collage, tapestry, tiles, stained glass, design, photography, illustrations and book covers, exploring and studying in depth the qualities of geometry and colour in his work.

In this work, “Estrutura Ambígua” from 2002, the work on colour explores the possibilities that the technique used allows, by working with a weft with multiple threads, where, besides the variation in the choice of the colour catalogue, intermediate tones are achieved by the different combination of threads in the same weft. The work on colour allows the piece to have a double three-dimensionality, that of the configuration of the base geometry, which in a device of optical illusion typical of “op art” can be read in various ways in terms of spatial orientation, but also the reading of groupings of elements of that base structure that cross the tapestry with the illusion that they stand out three-dimensionally from a base of less depth.

On the other hand, the geometric rigour that the diagonal structures of the work present is also a characteristic of the Manufactura de Portalegre technique, namely the warp of double threads, which allows it to be enveloped by the weft passages covering the double thread (dot) or only one of the threads of the warp (half dot), a distinctive element of this Manufactura in relation to other tapestry techniques. This rigour is also enabled by a detailed interpretation of the card, in the case of Eduardo Nery always with the direct involvement of the artist, and its passage through the Manufactura’s technical office for a grid, which in turn is rigorously transposed by the craftswomen to the tapestry during the process of its execution.