TEMA

To-TOUCH | TOCAR

“Agora, a tarefa mais importante é recuperar os nossos sentidos.
Precisamos de ver mais, ouvir mais e sentir mais…”
Susan Sontag

Os eventos que vivemos nos últimos anos, o rápido desenvolvimento da inteligência artificial e a crescente importância da virtualidade, desafiam o contacto físico, e podem ser capazes de provocar um afastamento, do que consideramos como mundo ´real’, tendo certamente o poder de nos transformar num tecido social cada vez mais individualista e desinteressado, que, crescentemente, se verifica apartado da sociabilização e do fazer em comunidade.

Nesta edição da CONTEXTILE 2024, propõe-se uma reflexão sobre o Toque, considerando-o como o primeiro de todos os sentidos capaz de nos reposicionar face ao mundo, numa perspetiva menos centrada no olhar. 

O toque é uma ferramenta poderosa para estimular relações humanas mais próximas, colaborativas e saudáveis. Quando utilizado com respeito, consentimento e consideração, pode criar ambientes nos quais as pessoas se sentem mais ligadas umas às outras, um aspeto fundamental na construção de comunidades mais fortes e sociedades mais coesas. Por outro lado, o toque ético vai para além do aspeto físico, representando, acima de tudo, uma expressão de reconhecimento da humanidade do outro.

Os têxteis e o toque estão intrinsecamente ligados, formando uma relação complexa que abrange várias dimensões. Os têxteis, como materiais que compõem tecidos e superfícies, possuem uma qualidade tátil distinta com a capacidade de evocar diferentes sensações quando em contacto com a pele daquilo que entendemos como corpos – “seres humanos”, com organismos, ambientes, espaço e tempo. Se os têxteis transmitem significados culturais, históricos, tecnológicos e emocionais complexos através de padrões, cores, comunicação e texturas, então novas identidades, novos simbolismos de histórias mais antigas e narrativas inclusivas podem ser reimaginados.

Reconsidera-se e recria-se o ato de Tocar através do resgate das tradições e heranças têxteis, do contacto com os materiais orgânicos e naturais, da manualidade e da apetência para o analógico, mas também através do diálogo, confronto ou complementaridade com a exploração de novas materialidades e novos procedimentos tecnológicos aplicados à arte têxtil.

Importa, numa teia imbricada, relacionar ou colocar em contacto as comunidades e territórios de cultura têxtil que certamente podem trazer novas definições, abordagens e expansões ao conceito de Tocar.

Os têxteis e a arte têxtil são veículos importantes para repensarmos o toque e reavaliar como nos posicionamos nos lugares designados para a troca, onde tudo está em contacto, potencialmente reunindo pessoas de diferentes sociedades nas suas sensibilidades e experiências.

O desafio será estarmos atentos e ponderarmos: qual é a forma que reflete o tempo em que vivemos, agora e no futuro?