RESIDÊNCIAS
ARTÍSTICAS
9 ARTISTAS | RESIDÊNCIAS 8 SETEMBRO — 12 OUTUBRO | EXPOSIÇÃO 12 OUTUBRO — 15 DEZEMBRO
OPEN CALL
Angeles Jacobi
Noriko Tomita
MAGIC CARPETS
Claire Amiot
Flávia Vieira
Laura Besançon
BILP
Marie-José Gustave
Mylene Michaud
PICE
Susana Guerrero
EFFEA
Nikolina Krstičević
As Residências Artísticas ganham uma nova centralidade na 7.ª edição CONTEXTILE. Um total de nove artistas vai estar em criação em Guimarães já com o evento a decorrer. É a primeira vez que tal acontece, amplificando as possibilidades de diálogo e cruzamento entre os diferentes criadores selecionados e a comunidade artística que a Bienal vem nutrindo.
O período de Residências Artísticas começa a 6 de setembro, no arranque do fim-de-semana inaugural da CONTEXTILE 2024, prolongando-se até 12 de outubro. Para esse dia, está prevista a inauguração da exposição resultante da criação, a partir do território, dos artistas Angeles Jacobi (Argentina), Noriko Tomita (Japão), Susana Guerrero (Espanha), Nikolina Krstičević (Croácia), Claire Amiot (França), Flávia Vieira (Portugal), Laura Besançon (Malta) e Marie-José Gustave e Mylene Michaud, ambas do Canadá.
Estes criadores foram escolhidos através de uma convocatória aberta e das parcerias que a CONTEXTILE mantém com a Biennale Internationale du Lin de Portneuf (Canadá), a plataforma europeia Magic Carpets e os programas PICE (Internacionalización de la Cultura Española) e European Festivals Fund for Emerging Artists.
Open Call
Angeles Jacobi
ARGENTINA
Angeles Jacobi nasceu em 1989 e atualmente vive em Buenos Aires, Argentina. O seu trabalho explora a relação entre a tradição e as novas tecnologias, a importância do trabalho, o significado da arte e a efemeridade da existência. Utilizando o tricô e o bordado como os seus principais meios de expressão, Jacobi incorpora mecanismos que permitem que as suas peças se desfaçam lentamente ao longo do tempo. Descobri a minha abordagem singular à arte através de um simples erro enquanto bordava—um erro que me levou a retroceder e a desfazer o meu trabalho. Este ato de desfazer fascinou-me, e agora crio instalações têxteis que se desfazem sozinhas com a ajuda de um mecanismo motorizado. Através do processo de desfazer, convido os espectadores a refletirem sobre as complexidades da vida e a passagem do tempo. Ao misturar técnicas têxteis tradicionais com métodos contemporâneos, faço a ponte entre o passado e o presente, revelando histórias e símbolos ocultos.
PROJETO
“Quando as Pontas se Encontram” é uma instalação têxtil e cinética que envolve as comunidades locais na adição de impressões às peças tricotadas. O objetivo é infundir a obra de arte com a cultura de Guimarães, imprimindo diretamente no tecido as histórias das pessoas. Na exposição, um mecanismo motorizado irá desfazer lentamente as peças tricotadas—simbolizando temas de separação e toque. Este processo representa a natureza cíclica da separação e do reencontro, refletindo os padrões intricados da vida. A instalação torna-se uma expressão tátil de narrativas partilhadas, convidando os espectadores a explorarem as conexões e desconexões que moldam as nossas vidas.
Open Call
Noriko Tomita
JAPÃO
Noriko Tomita é uma artista que trabalha com fibras texteis que vive em Tóquio, no Japão, onde nasceu e cresceu. Desde que concluiu o seu mestrado em Design Têxtil na Tama Art University, em 2010, tem exposto em trienais/bienais nacionais e internacionais nas esferas do têxtil, da fibra e da arte contemporânea. As suas principais exposições incluem a Trienal de Arte de Echigo-Tsumari (Japão, 2022), “Textile Art of Today” (Eslováquia, digressão pela Hungria, República Checa e Polónia, 2018-19) e a 5ª Trienal Internacional de Arte Têxtil e de Fibras de Riga (Letónia, 2015).
PROJETO
Materiais familiares, como objetos do quotidiano, têm sido uma fixação na minha prática, pois refletem claramente o sentido estético e as formas de pensar de um país. Embora os objetos do quotidiano possam parecer desinteressantes para os habitantes locais, podem ser extraordinários para quem vem de fora. Os meus encontros com materiais da vida quotidiana levaram-me a procurar “a definição de criação têxtil” fora dos seus limites habituais de produção têxtil comum, como a tecelagem e o tricô. Ao considerar o tema “TOQUE”, pensei em “Coisas que ainda quero tocar” e “Coisas que já não quero tocar”; estas poderiam ser substituídas por “Coisas que não consigo deitar fora” e “Coisas que quero deitar fora”. Fazendo referência aos “Lenços dos Namorados”, um costume perdido desta região, estes lenços já não são necessários e estão “usados”, mas não serão deitados fora. Enquanto “Lixo” são coisas que perdem valor com a sua funcionalidade, “Coisas que não podem ser deitadas fora” recuperam valor ao recordar-nos os nossos sentimentos por elas.”
BILP – Biennale Internationale du Lin de Portneuf
Marie-José Gustave
CANADÁ
Marie-José Gustave, nascida em 1963, em Paris, França, vive em Longueuil, Quebec.
A partir da sua formação em produção de vestuário, manteve o gosto pela forma e pelo volume. Cria obras em papel utilizando técnicas de tricô, croché e cestaria. Universalidade, transmissão e identidade são os temas que sustentam a sua prática. Marie-José recebeu bolsas da SODEC, do Conselho das Artes do Canadá e do Conseil des arts et des lettres du Québec. Participou em exposições coletivas e individuais no Canadá, França, Estados Unidos, Reino Unido e Polónia.
PROJETO
Nesta era digital, onde máquinas e software estão a substituir a mão humana, a minha prática é exclusivamente manual. Está intimamente ligada ao objeto e ao artesanato. Neste projeto, abordo o tema do “Toque” através do prisma dos utensílios de mesa, o recipiente que tocamos diariamente num ritual confortável e reconfortante. O recipiente desempenha um papel nas relações sociais. É uma ferramenta de preservação e, simbolicamente, um meio de partilhar e transmitir as nossas tradições, património e identidade cultural.
A série de esculturas, inspirada na louça local, é feita de polpa de papel reciclado e cestaria de palha. Ao transformar objetos utilitários comuns em obras de arte, questiono a nossa perceção dos objetos do quotidiano e o valor que lhes atribuímos. Também questiono o que deixamos para trás. Que património estamos a transmitir? É também uma forma de honrar o valor destes objetos universais.
BILP – Biennale Internationale du Lin de Portneuf
Mylene Michaud
CANADÁ
Mylene Michaud, nascida em 1980, na cidade de Quebec, Canadá onde reside.
Tem um bacharelato em Belas Artes pela Université Laval, Québec (2004) e um curso técnico em artesanato, com opção em estrutura têxtil, na Maison des métiers d’art de Québec, Québec (2011). Como artista têxtil, utiliza principalmente o tricô digital para criar peças únicas de grande formato. Participou em exposições coletivas e individuais no Canadá e em França.
PROJETO
O meu projeto criativo envolve a tradução de imagens de satélite capturadas na web em tricô. Através da representação do território e da exploração da transferência de dados de uma forma para outra, a minha pesquisa questiona a relação que os indivíduos têm com o virtual e o real na era digital. As coordenadas geográficas do local que acolhe a residência criativa em Guimarães servem como ponto de partida para uma exploração do território realizada com a aplicação online Google Earth. Realizo um reconhecimento navegando em vista aérea à procura de detalhes que se destacam pelo seu interesse formal, cromático ou simbólico. A imagem selecionada é convertida em secções de tricô jacquard utilizando uma máquina de tricotar eletrónica doméstica. As secções tricotadas são montadas à mão para reconstruir a imagem original. A malha é abordada como um pixel numa proporção de 1:1, resultando numa obra de grande formato que destaca a semelhança entre a pixelização da imagem digital e a estrutura em rede do tecido.
Magic Carpets
Claire Amiot
FRANÇA
Claire Amiot é uma artista francesa nascida em 1994. Após estudar História da Arte e Arqueologia, ingressou na École des Beaux-Arts e obteve o seu DNSEP em Nantes, em 2019. Vive e trabalha em Nantes, onde tem um estúdio com o Collectif Bonus (ateliers da cidade de Nantes). Exibiu em várias exposições coletivas e individuais em França, Estados Unidos e Japão. É vencedora do Prémio de Artes Visuais da cidade de Nantes em 2022.
PROJETO
O têxtil é um material muito tátil. Tem uma ligação direta com o corpo, cobrindo-o e acariciando-o. Pode parecer tão vivo que exalta o movimento. O que me interessa na noção de “contexto” são as dimensões geográficas, históricas e sociais. A minha forma de tocar, de entrar em contacto com o contexto, será retirar os recursos e materiais para o meu projeto diretamente do local: as cores, os têxteis, as histórias. Uma investigação sobre como o tecido pode tornar-se um lugar de memória. Um material que permite que experiências pessoais e íntimas falem por si. Uma superfície que conta uma história coletiva e universal sobre a paisagem. O que me interessa é a ambivalência expressa pelo gesto de “agregar” num único objeto estes tecidos nos quais foram impressas as marcas de múltiplas experiências individuais. Tal como as histórias, o tecido é um objeto que circula e se impregna do presente. É um material que vive através dos nossos corpos, das nossas emoções e das nossas experiências. Temos uma relação interdependente com os têxteis, tal como temos com a paisagem ou com as pessoas à nossa volta.
Magic Carpets
Flávia Vieira
PORTUGAL
Nascida em Portugal, 1983, reside e trabalha entre Porto e São Paulo.
Usando o têxtil e a cerâmica em contexto instalativo, o seu trabalho desenvolve-se a partir das narrativas culturais, históricas e políticas inerentes ao processo artesanal, explorando noções de identidade, memória e representação coletiva, diáspora botânica e alteridade.
Licenciada em Belas Artes pela Univ. do Porto, Mestre em Comunicação e Artes pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Univ. Nova de Lisboa e Doutorada em Poéticas Visuais e Processos de Criação pelo Instituto de Artes da Unicamp em São Paulo no Brasil, a artista expõe regularmente em Portugal e no estrangeiro.
PROJETO
O projeto desenvolve-se a partir da história das plantas no contexto têxtil no norte de Portugal e como estas espelham sobreposições históricas, culturais e geográficas. Mais especificamente, procura-se trabalhar como a representação estética do linho e do algodão (através da produção de tecidos e bordados) é resultado de sobreposições e cruzamentos geográficos que unem o local e o global. Em contraposição ao algodão que protagonizou a Revolução Industrial e que participou num formato de produção mais acelerado e capitalista, o linho caracteriza-se por um fazer mais local, lento, sustentável e familiar. Estas duas abordagens, que atualmente coabitam na produção material têxtil, trazem não somente resultados distintos na formalização do tecido e na iconografia do bordado, como também desempenham valores simbólicos diferentes.
Magic Carpets
Laura Besançon
MALTA
Laura Besançon (n. 1993, Malta) formou-se com um Mestrado em Fotografia no Royal College of Art. No centro da prática multidisciplinar de Laura estão as noções de jogo, conectividade e lugar, exploradas através de uma abordagem lúdica que frequentemente utiliza várias ferramentas de comunicação como parte do processo. Exposições recentes incluem a Bienal do Mediterrâneo de Izmir 2024 e a Maltabiennale.art 2024.
PROJETO
Este projeto participativo com os residentes de Guimarães explorará conexões profundas entre as pessoas e os seus objetos têxteis. Através de interações íntimas, um a um, os residentes serão convidados a contribuir com têxteis imbuídos de significado pessoal, transformando estes itens em recipientes de história pessoal e pontos de contacto para compreender experiências individuais e coletivas. O processo pretende transcender a mera coleção, evoluindo para uma exploração partilhada de significado e memória. O resultado apresenta tanto os têxteis como o trabalho fotográfico, com a instalação final a exibir estes itens e a essência relacional do projeto. Os participantes são convidados a encontrar-se e partilhar as suas histórias na exposição, encorajando os visitantes a participar e criar um diálogo contínuo. Ao focar-se na qualidade tátil dos têxteis e nas narrativas pessoais neles empregnados, o projeto convida os espectadores a envolverem-se com as ricas texturas tanto do material como da memória.
PICE
Susana Guerrero
ESPANHA
Guerrero tem um doutoramento em Belas Artes e é professora na Universidade Miguel Hernández. É representada pela 532 Thomas Jaeckel Gallery em Nova Iorque e pela Casa Bancal. Obteve bolsas de arte na Grécia, México, Alemanha e Itália. Realizou exposições em galerias, feiras de arte e museus nos Estados Unidos, China, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Guatemala, Marrocos, Alemanha, México, Polónia, Itália, Índia e Espanha. As suas obras encontram-se em coleções, destacando-se a Marieluise Hessel Collection of Contemporary Art NY e na Coleção Norlinda e José Lima Portugal. Colaborou em curtas-metragens, flamenco e dança contemporânea.
PROJETO
Susana Guerrero construiu uma mitologia contemporânea que coloca a realidade física, a matéria dos sonhos, o subconsciente, o mágico, o visível e o oculto no mesmo nível. Para isso, realiza uma arqueologia emocional, uma ritualização do quotidiano e do doméstico. Através de estratégias metafóricas, reformula mitologias antigas que são inseridas no seu trabalho, juntamente com a sua experiência pessoal do sagrado. Os seus métodos criativos, que abrangem disciplinas como desenho, escultura, têxteis ou gravura, baseiam-se na importância do ritual no processo de criação; a genealogia dos materiais utilizados, a sua origem, recolha e seleção, a sua raiz poética e simbólica. Uma união de razão, imaginação e intuição.
EFFEA
Nikolina Krstičević
CROÁCIA
Nikolina Krstičević é uma artista da Croácia, formada em Design Têxtil pela Faculdade de Tecnologia Têxtil em Zagreb. Participou em várias exposições coletivas e teve três exposições individuais. Exibiu na XIV Trienal de Escultura Croata e na Bienal de Artes Têxteis em Kranj. Também participou no programa Briefing on Soft Arts do Centro de Investigação de Moda e Vestuário em Zagreb (CIMO). É membro da Ulupuh, uma Associação Croata de Artistas de Artes Aplicadas.
PROJETO
No projeto Delicate Work, exploro a possibilidade do meio têxtil como uma ferramenta para processar memórias emocionais armazenadas no corpo, traduzindo-as em forma têxtil. O que me interessa especificamente no contexto da residência é a ideia de toque sob a lente emocional. Como sentimos essas emoções no corpo? Como se moveriam, como seriam ou como se sentiriam ao toque se tivessem um corpo próprio? Ao dar a essas emoções uma forma têxtil, personifico-as e construo personagens a partir delas; aproximando-as assim de mim mesma. Fotografias da infância que analiso no processo artístico servem-me como pequenos estímulos para aceder às emoções não sentidas que permanecem no meu corpo. Com a lentidão consciente e incorporada da agulha e linha e momentos expressivos de feltragem com agulha, estou a abrir a porta para que as emoções aprisionadas sejam sentidas no meu corpo. Esses delicados processos emocionais tornam-se então uma interface onde o meu interior frágil e o observador se podem tocar.